Império Franco
A maioria dos reinos bárbaros formados a
partir da destruição do Império Romano do Ocidente teve vida curta. Saxões,
visigodos, ostrogodos alamos, burgúndios e outros povos não resistiram às
pressões externas e acabaram dominados ou destruídos. Apenas os francos
conseguiram se estruturar e fincar raízes na Gália. Depois expandiram seus
domínios sobre territórios que hoke correspondem à França, Alemanha, Bélgica,
Itália e mais oito países da Europa. A palavra franco vem do alemão antigo
frekkr e significa forte, ousado, corajoso. Essas eram exatamente as qualidades
que Carlos Magno procurava ostentar como o maior soberano dos francos e grande
guerreiro cristão. Por isso, Carlos Magno foi coroado pelo papa Leão III com o
título de Imperador na tentativa de resgatar a autoridade do antigo Império
Romano.
De todos os povos bárbaros germânicos, os
francos merecem especial atenção, pois conseguiram estruturar um poderoso
Estado de grande significação na Alta Idade Média européia. Esse Estado franco
formou-se e expandiu-se sob o governo de duas dinastias:
Dinastia dos Reis Merovíngios (século V a
VIII) - período da formação do reino franco, das suas primeiras expansões
territoriais e da aliança estabelecida entre o rei e a Igreja Católica Romana.
Dinastia dos Reis Carolíngios (século VIII e
IX) - período do apogeu dos francos, da sua máxima expansão territorial e da
tentativa de se fazer ressurgir, sob o governo dos francos, a autoridade de um
império universal.
Os
Merovíngios
Meroveu foi líder dos francos na primeira
metade do século V, chefiando seu povo na luta contra os hunos (Batalha dos
Campos Catalúnicos). Por descender de Meroveu, a primeira dinastia dos reis
francos é dominado merovíngia.
Em termos efetivos, o primeiro rei merovíngio
foi Clovis (neto de Meroveu), que governou durante vinte nove anos (482-511).
Clovis conseguiu promover a unificação dos francos, expandiu seus domínios
territoriais e converteu-se ao cristianismo católico.
Depois da morte de Clovis, seus quatro filhos
dividiram o reino franco, enfraquecendo-o politicamente. Somente com o rei
Dagoberto (629-639) houve uma nova reunificação dos francos. Entretanto, após
sua morte surgiram novas lutas internas que aceleraram o desmoronamento do
poder dos reis merovíngios.
Os sucessores de Dagoberto tiveram seus
poderes absorvidos por um alto funcionário da corte, o prefeito do palácio
(mordomo do paço) que, na prática, desempenhava o papel do verdadeiro rei.
Quando aos reis merovíngios, assumiram uma vida de prazeres e de ociosidade, o
que lhe valeu o título de reis indolentes.
No final do século VII, o mordomo do paço
Pepino de Herstal (679-714) tornou seu cargo hereditário. Seu sucessor, Carlos
Martel (714-741), adquiriu grande prestigio e poder, principalmente depois de
conseguir deter o avanço dos árabes muçulmanos em direção à Europa Ocidental.
Foi na famosa Batalha de Poitiers, em 732 que
Carlos Martel venceu o emir árabe Abderramã, contando com os esforços da
infantaria dos francos. Interrompendo o avanço dos muçulmanos em direção à
Europa, Carlos Martel ficou conhecido como o salvador da cristandade ocidental.
Ao morrer, Carlos Martel repartiu seus
domínios entre seus dois filhos: Carlomano e Pepino. Em 747 Carlomano entrou
para a vida monástica, deixando para Pepino todos os poderes políticos deixados
pelo pai. Em 751, Pepino destronou o último e enfraquecido rei merovíngio,
Childerico III, e fundou a dinastia carolíngia.
Os
Carolíngios
Pepino, o Breve, obteve o reconhecimento do
papa Zacarias para o destronamento do último rei merovíngio, que se recolheu a
um mosteiro. Eleito rei de todos os francos, Pepino foi abençoado solenemente
pelo arcebispo Bonifácio, representante do papa.
Antes de morrer, 768, Pepino dividiu reino
entre seus dois filhos: Carlos Magno e Carlomano. Porém, três anos após receber
sua parte no reino (771), Carlomano morreu e Carlos Magno tornou-se soberano
absoluto do reino franco. Através de diversas guerras, Carlos Magno ampliou os
domínios dos francos, apoderando-se de regiões como a Soxônia, Baviera,
Lombardia e quase toda a Itália. Suas conquistas trouxeram-lhe prestígio e
poder.
Império
Carolíngio
A Igreja católica aliou-se a Carlos Magno,
pois desejava a proteção de um soberano poderoso e cristão que possibilitasse a
expansão do cristianismo. Assim, no dia 25 de dezembro de 800, Carlos Magno
recebeu do papa Leão III o título de imperador do Sacro Império Romano.
Foi uma cerimônia pomposa e solene, que
pretendia reviver, através do novo imperador, a autoridade do Império Romano do
Ocidente, desaparecido em 476 com as invasões germânicas. Desse modo, Carlos
Magno foi coroado como legítimo sucessor dos grande imperadores romanos.
A princípio, o Império Bizantino não recolheu
o título concedido a Carlos Magno. O imperador bizantino Miguel I exigiu, para
dar seu reconhecimento, concessões territoriais da região da Dalmácia e da
Ístria.
O império Franco não tinha capital fixa. Sua
sede dependia do lugar onde se encontrava o imperador e sua corte. De modo
geral, Carlos Magno permanecia por maior tempo na cidade de Aquisgrã
(Aix-la-Chapelle).
Procurando dar uma organização mais adequada
aos usos e costumes vigentes no império, Carlos Magno baixou normas escritas
conhecidas como capitulares.
Condes,
Marqueses e Missi-Dominici
Carlos Magno criou subdivisões
administrativas, encarregando os condes, os marqueses e os missi-dominici de
controlá-las.
Cabia aos condes, responsáveis pelos
territórios do interior (condados), fazer cumprir as capitulares e cobrar os
impostos em nome de Carlos Magno.
Aos marqueses, cabia defender e administrar os
territórios situados nas fronteiras do império, isto é, as marcas.
Os missi-dominici, inspetores reais, viajavam
por todo o império e tinham plenos poderes para controlar a ação dos
administradores locais.
O Beneficium e os Vassalos do Rei
O Beneficium e os Vassalos do Rei
Durante o governo de Carlos Magno,
muitas terras do império foram concedidas em beneficium a diversos nobres
locais. Esses nobres tornavam-se, então, vassalos do rei, tendo para com ele
dever de fidelidade. Por estarem na condição de vassalos diretos do rei, muitos
desses nobres se recusavam a obedecer às instruções de autoridade
administrativas, como os missi-dominici.
Essa atitude dos nobres foi um importante
elemento para a formação da sociedade deudal, com fragmentação do poder nas
mãos de diversos nobres senhores de terra, unidos apenas pelos laços de
vassalagem.
A Renascença
Carolíngia
Guerreiro audacioso, Carlos Magno dedicou-se,
durante toda a vida, muito à espada do que ao cultivo do espírito, permanecendo
analfabeto praticamente até a idade adulta. Entretanto, na qualidade de
administrador, preocupou-se em promover o desenvolvimento cultural do Império
Franco, talvez para dar legitimidade à pretendida recriação do Império Romano
Ocidental.
Assessorado por intelectuais, como o monge
Alcuíno, o bibliotecário Leidrade e os historiadores Paulo Diácomo e Eginardo,
Carlos Magno abriu escolas e mosteiros, estimulou a tradução e a cópia de
manuscritos antigos e protegeu artistas.
Assim, o período de seu governo foi marcado
por significativa atividade cultural, que abrangeu os setores das letras, das
artes e da educação. Trata-se da chamada renascença carolíngia, que contribuiu
para a preservação e a transmissão de valores da cultura da Antiguidade
Clássica.
A Divisão e a
Decadência do Império
Ao morrer, em 814, Carlos Magno deixou o poder
imperial para seu filho Luís I, o Piedoso, No reinado de Luís I, o Império
Carolíngio ainda conseguiu manter sua unidade política, mas após sua morte, em
840, o império foi disputado por seus filhos, numa desgastante guerra civil.
Pelo Tratado de Verdun, assinado em 843, os
filhos de Luís I firmaram a paz, estabelecendo a seguinte divisão do Império
Franco:
Carlos II, o Calvo, ficou com a parte
ocidental, compreendendo a região da Franca atual;
Luís, o Germânico, ficou com a parte oriental,
compreendendo a região da Alemanha atual;
Lotário ficou com a prte central,
compreendendo regiões que estendiam da Itália até o mar do Norte.
Em cada uma dessas regiões carolíngias foi
perdendo o poder, com as sucessivas divisões internas dos reinos. Assim, a ora
de unidade política realizada por Carlos Magno não conseguiu sobreviver um
século depois de sua morte.
Causas da
decadência: crise e invasões
O desmembramento do poder real dos monarcas
carolíngios foi acompanhado pela crescente independência e autonomia da nobreza
agrária. Houve forte descentralização e fragmentação do poder político,
evidenciando a crise interna vivida pelo império.
Depois de um período sem invasões, a Europa
cristianizada sofreu uma série de novas invasões, nos século IX e X, em três
grande frentes: leste, norte e sul.
Do leste vieram os húngaros (magiares), que
promoveram ataques periódicos, saqueando vilas, mosteiros e propriedades
rurais.
Do norte ocorreu a invasão do vikings
(escandinavos), que, vindos da Dinamarca pelo mar do Norte, lançaram-se em
constantes ataques de pirataria locais do litoral europeu. Em 911, o rei franco
Carlos, o Simples, cedeu a um dos chefes cikings, Rollon, o território da
Normandia. Em contrapartida, Rollon tornou-se vassalo do rei franco.
Pelo sul chegaram os árabes, de religião
muçulmanos, que, dominando a navegação pelo mar, Mediterrâneo, lançaram-se em
sucessivos ataques de pilhagem e diversas regiões da Itália (Roma, Campânia e
Lácio) e as grandes ilhas (Sicília, Córsega e Sardenha).
O renomado historiador Henri Pirenne defende a
tese de que o comércio entre Europa e Oriente continuou ativo, ainda que
enfraquecido, mesmo com o fim do Impéiro Romano do Ocidente. Só com o
estabelecimento do domínio árabe no mar Mediterrâneo é que houve forte retração
no comércio europeu-oriental:
"O fato de a expansão islâmica ter
fechado o Mediterrâneo, no século VII, teve como resultado a rapidíssima
decadência do comércio. No decorrer do século VIII, os mercadores desapareceram
em virtude da interrupção do comércio. A vida urbana, que ainda permanecia,
graças a esses mercadores, malogrou ao mesmo tempo.
Manifestou-se, então, um empobrecimento geral.
O numerário de ouro, herdado dos romanos, desapareceu, sendo substituido pela
moeda de prata dos carolíngios. Essa é uma prova evidente do rompimento com a
economia antiga caracteristicamente mediterrânea".
A Formação
das Sociedades Feudais
O clima de insegurança e de intranqüilidade
espalhado pela onde de invasões conduziu os cristãos europeus a construir vilas
fortificadas e castelos cercados com grandes estacas.
Todo esse sistema defensivo criado pela
iniciativa particular dos nobres de cada região demonstrava a falta de poder
dos reis para organizar a defesa da sociedade como um todo. Cada um defendia-se
como podia, associando-se a senhores mais poderosos, em busca de proteção.
Nesse sentido, as "invasões" assinalaram uma data essencial na
formação das sociedade feudais do ocidente.
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